quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Valente


VALENTE




David Arrais

                A Pixar é um estúdio que até 2011 se notabilizava pela incrível capacidade de produzir filmes que além de sucessos de bilheteria, eram grande sucesso de crítica. Alguns dos motivos para tal sucesso eram a criatividade e a coragem com que os roteiros eram desenvolvidos, sem nunca apelar para fórmulas batidas. Infelizmente, Carros 2  veio mostrar que as coisas estavam mudando por lá. E agora, Valente, veio confirmar essa mudança, com a proposta de apresentar a sua primeira princesa.

                Valente conta a história de Merida, filha mais velha do Rei da Escócia, que, ao atingir a idade, se vê obrigada a escolher quem será seu noivo. No entanto, desde criança ela demonstra não ter a menor “vocação” para acabar como sua mãe, que, do seu ponto de vista, tem como única razão de vida preparar a filha para a vida de esposa/rainha. Quando resolve não seguir a tradição, ela acaba contratando os “serviços” de uma bruxa, que pratica um feitiço de consequências potencialmente desastrosas.

A família de Merida é bem explorada pelo roteiro, desde a retidão e rigidez de Elinor, sua mãe, ao afeto dispensado a ela por Fergus, seu pai, além de sua bravura e altruísmo, passando pelas traquinagens de seus pequenos irmãos trigêmeos.

Assim como ocorreu em Os Incríveis, os personagens humanos, talvez pela complexidade da modelagem, são estilizados, chegando a parecerem caricaturas (como a criada da família, ou os pais dos pretendentes da princesa) diferentemente do que acontece nos filmes baseados em captura de movimento. Mas, de forma alguma isso enfraquece a credibilidade naqueles personagens, chegando a aumentar a afeição que podemos sentir por eles.

A fraqueza do roteiro (escrito por quatro roteiristas, quase sempre um mau sinal) é acentuada pela quantidade de “reviravoltas”, e uma lenda que, além de batida, não acrescenta muito à história, servindo apenas para justificar a existência do “vilão” do filme.

A história ainda conta com outros clichês como “você deve escolher seu destino”, animais engraçadinhos, músicas sobre sonhos e superações, e também vários elementos presentes em outras produções Disney: o corvo negro (A Bela Adormecida) e a vassoura encantada da bruxa (Fantasia); a amizade da heroína e seu cavalo e uma caçada a um monstro (A Bela e a Fera); o prazo para que se acabe o feitiço (A pequena Sereia); a transformação de membros da família (Irmão Urso). Não existem aqueles  arroubos de criatividade característicos Pixar.

           Porém, o que falta de criatividade e esmero no roteiro, sobra nos aspectos técnicos. A geografia da Escócia é extremamente bem recriada, com suas montanhas, rios e vários tipos de vegetação. Os movimentos das plantas e cabelos com o vento é bastante realista. Assim como as texturas das roupas, dos pelos dos animais, de peças de mobiliário de madeira ou de rochas, que também são convincentes.

A direção de arte também é eficiente, retratando desde o interior do castelo do Rei, com seus salões enormes, passagens secretas “exploradas” pelos trigêmeos e o quarto de Merida que refletem bem a sua personalidade (a sua cama, que é “vítima” de suas frustrações é vista com várias lascas arrancadas) à casinha da bruxa, passando também pela “releitura” de Stonehenge.

        As cenas de ação são bem elaboradas, pecando apenas na luta final que, apesar de tensa e bem executada e coreografada (chegando a ser superior a uma cena semelhante do filme A Bússola de Ouro), é comprometida pela falta de luz da cena, que ocorre à noite.

           Mesmo que antes tenha realizado trabalhos de temas explorados por outros estúdios, como um herói improvável, lições de humildade, inimigos que se tornam amigos, ou mesmo super-heróis, sempre havia um sopro de novidade. Infelizmente, ao se render às fórmulas de mercado, a Pixar parece ter esquecido que ao fugir disso havia criado a sua própria fórmula de sucesso. 

5 comentários:

  1. Davi!

    Achei esse teu melhor texto até agora. Muito bom, cara. Fez a crítica exatamente do jeito que eu gosto. Falando sobre os acontecimentos e chamando atenção do leitor para fatos interessantes sobre a obra sem precisar dizer nada mais que o enredo básico principal.

    Virou um homenzinho. hmmmmmmmmmmmmmm.

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    1. Valeu Monica! A 11a é a da sorte! =D Tô praticando e me aperfeiçoando!

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  2. Assisti hoje. Muito tempo depois. rsrs

    Não gostei muito. A Disney "disneizou" a Pixar, cara. Que trágico. O que é uma pena, porque a qualidade da técnica da animação foi a melhor de todos os tempos. Muito real. Nisso a Pixar superou demais.
    O problema é a roteirização Disney, a temática Disney e até mesmo sequências completamente Disney.
    Além de todas as referências que você falou, a cena dos irmãos da Mérida roubando bolinhos da bandeja da septã é idêntica a o Abu de Aladdin roubando a maçã da cabana do feirante. E tiveram muitas outras.

    Como vamos sobreviver sem as doses anuais de criatividade e emoção que vinha nos promovendo a Pixar?

    =~~~~

    Realmente me preocupo de ver a Disney comprando tudo. =/

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    1. Pois é. O que eu digo pras pessoas é: Cara, o filme é bacaninha. Se não fosse Pixar, seria um clássico instantâneo, Mas a Pixar elevou demais a expectativa pros seus filmes. E outra, se você não assistiu Enrolados, não assista depois de ver valente. O cabelo da Rapunzel parece um pano molhado, na frente do cabelo da Merida.

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  3. kRA NO INICIO ATE PENSEI QUE ERA UMA OBRA SÓ DÁ DISNEY, POIS TODAS A S CARACTERÍSTICAS SÃO DA MESMA, UMA OBRA UM TANTO BATIDA, E PORQUE UM URSO, PENSEI, FICOU PARECENDO IRMÃOS URSO, MAS AI SE ANALISAR QUE ANIMAL PODERIA ATERRORIZAR AS TERRAS NÓRDICAS? UM URSO, AI RELAXEI MAIS.
    MAS AS SEQUENCIAS DE AÇÃO SÃO MUITO BOAS, A QUALIDADE DOS GRAFICOS SÃO PERFEITA, MUITAS VEZES NOS PARAMOS PARA VER OS DETALHES DAS IMAGENS, E O FILME NÓS PRENDE A ATENÇÃO O TEMPO TODO, SÓ COM ALGUMAS SEQUENCIAS BATIDAS QUE FICAM CHATA, MAS O FILME VALE A PENA ASSISTI, EU ADOREI. A PIXAR DIFERENCIOU DOS FILMES QUE JÁ FEZ, MAS FICOU MAS COM A CARA DA DISNEY, INFELISMENTE...

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